Douro ad aeternum

 

A descoberta de uma das igrejas mais antigas de Portugal estava prometida há já algum tempo. Inclusive, já por ali tínhamos andado, mas o edifício estava fechado. Depois de uma passagem de vistas rápidas do alto do Santuário da Senhora dos Remédios, em Lamego, descemos pela estrada curta e espremida, acompanhando o rio Balsemão. É uma sequência de imagens que nos prendem o olhar, entre a vegetação do rio, as escarpas selvagens e as encostas domadas pelas vinhas. No largo da igreja de São Pedro de Balsemão estava estacionado um comboio para turista ver. Sentado mais abaixo, alguém traduzia as linhas da pedra e do tempo para o papel.

Entrámos e fomos guardando memórias, mais fáceis e digitais. O espaço impressiona pela simplicidade e conhecida antiguidade. Quase se consegue sentir o peso do tempo ali dentro, observando as pedras erodidas pela fé. No final, depois da história, seguimos as vistas, num pequeno percurso pelo local, que terminou num vinhedo a meio da encosta e numa panorâmica do vale.

Prosseguindo pela estrada, investimos na direção da barragem do Varosa. Cruzámos a ponte do rio Balsemão, subimos e continuámos a pé por um caminho de amoras em direção à barragem. A curiosidade tinha sido criada por uma imagem da infindável escadaria em balcões que está incrustada à estrutura. Ainda arrisquei a descer umas largas escadas, mas acabei por resistir à preguiça. A inclinação da parte mais íngreme, junto à barragem, é deveras impressionante. Talvez seja por isso que tenha sido construída uma alternativa em sucessivos balcões. Referência ainda para o canyon que fica mais abaixo e nos lembra que a Natureza apenas precisa de tempo vencer obstáculos.

Após um almoço ventoso na Régua, seguimos pela famosa estrada E222 a montante do rio Douro. O destino era a Quinta do Pôpa. Passámos as portas e subimos a encosta. A paisagem, natural e humana, ia emergindo inteira, rabiscada pelo rio e pelas formas geométricas das vinhas. É das paisagens mais fantásticas que temos. Creio que é também daquelas que melhor nos define a essência lusitana. Chegados ao edifício, finalmente tivemos a oportunidade de nos estrearmos numa prova de vinhos. Foi uma espera longa, mas valeu a pena!

Guiados pela simpatia e conhecimento da A. e da L., conhecemos a história inspiradora da quinta e fomos avançando pelos aromas frutados das castas da região. Ficámos ainda a conhecer melhor o processo vinícola e os pormenores que depois se traduzem em vinhos distintos pela arte do saber granjeado ao longo de séculos. Mais abaixo, ocasionalmente, os comboios e os barcos subiam o rio, lembrando-nos que estamos em dívida de um passeio em descanso pelas águas, desde que há alguns anos atrás contámos pelos pés as traves da linha ferroviária abandonada entre o Pocinho e Barca d’Alva.

Entre aquilo que vimos, conhecemos e saboreámos, fica ainda a certeza que o geocaching é um ótimo cartaz de visita, também pela forma como estabelece laços entre as pessoas. No final, entre a excelente conversa e a paisagem sublime do Douro, pintámos um magnífico quadro de boas memórias. Podíamos passar aqui mil vidas e haveria sempre algo D’ouro para descobrir!

 

Douro ad aeternum

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