Sombras de Silêncio #274

Pouco tempo depois começaram a ouvir vários assobios e os dois olharam-se na certeza de que deveriam fugir dali. Bilinho seguiu à frente, subindo e furando por entre a vegetação. Girolme prosseguiu atrás dele, quase sem fôlego. Após uma paragem inesperada de Bilinho, Girolme foi ao seu encontro e os dois tropeçaram. A ovelhita conseguiu então escapar-se à custódia e pôs-se em fuga, descendo o monte em balidos de esperança.

Bilinho levantou-se de imediato, sem atender ao pedido de desculpa de Girolme. Entre a ovelha e a vida, acabou por continuar a fuga. Chegaram então a um descampado, com alguma inclinação, onde se erguiam dezenas de pedras em forma de círculos. Como se tivessem sido aplacados por alguma magia antiga, ou apenas pelo cansaço, os dois deixaram-se ficar encostados a uma das pedras, tentando decifrar como haveriam de suprir a fome. Pouco tempo depois, sem que eles se apercebessem, viram-se circunscritos por três dos filhos do dono da quinta de onde tinham sido enxotados. Ao vê-los, Bilinho desatou a rir em desespero. Miguel foi definhando com medo. As ameaças prolongaram-se por alguns instantes e eles foram novamente escorraçados ao pontapé e à pedrada. Ainda assim, consideraram que tiveram sorte. Enquanto eram afugentados pelos rapazes, um deles insistia que nunca mais os queria ver no «cromeleque». A palavra passou doravante a designar um sítio onde era muito difícil de chegar e cuja saída poderia ser bastante sofrível.

Bilinho e Girolme continuaram depois a viagem. Não obstante a fama e as histórias que foram criando pelas terras por onde passaram, a fantasia também se acomodou à realidade, como um gato enroscado à lareira num dia de inverno. Nem sempre é fácil descortinar a verdade dos factos e é sabido que quem fala do que não presenciou acaba por inventar o que não aconteceu.

Sombras de Silêncio #274

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