O diário de Anne Frank

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Demorei mais tempo do que devia a ler “O diário de Anne Frank”. Não só porque fui arrastando a leitura ao longo dos últimos meses, como também porque o livro merecia que lhe tivesse pegado há anos atrás. Não tinha por hábito ler diários, mas as últimas leituras acabaram por surgir um pouco ao arrepio da rotina. É difícil ler este livro e não ficar impressionado ou emocionado. Num dos períodos mais negros da história recente da humanidade, uma adolescente conseguiu criar simultaneamente um documento histórico e uma narrativa pungente de vida e de sonho que ia para lá do sofrimento envolvente.

Nascida no seio de uma família judaica, Anne Frank era uma adolescente como tantas outras. Aquando da ascensão nazi e manifestações antissemitas, a família abandonou a Alemanha e mudou-se para Amesterdão. Já depois de a 2ª Guerra Mundial ter irrompido em ódio pela Europa, a família e mais alguns judeus passaram a viver escondidos num espaço exíguo e secreto de um edifício comercial. Com a guerra a aproximar-se do final, o grupo foi denunciado e enviado para campos de concentração. Anne Frank acabaria por morrer incógnita num fevereiro sombrio. Pelo meio, Anne alimentou a vida através de um diário, em que relatava o seu dia-a-dia. Após o final da guerra, o seu pai, o único sobrevivente do grupo, regressou a Amesterdão, descobriu e publicou o diário, que viria a tornar-se num dos livros mais marcantes do séc. XX.

diarioA leitura impressiona por todas as limitações que o grupo teve de suportar para viver no abrigo. Do conforto das nossas vidas, é difícil imaginar o que seria deambular por uma existência fechada entre quatro paredes de medo e sobressalto. Qualquer barulho suspeito poderia ser o prenúncio do fim. Dadas as circunstâncias, as pessoas viviam um dia-a-dia de pequenos atritos. Os dilemas, as discussões e os problemas sucediam-se entre todos. Ali, tudo era imediato e tangível. Não existiam cantos para chorar. Apenas a solidão da noite poderia servir de confidente. Anne era uma adolescente de ideias vincadas e senhora de si. Entre desequilíbrios emocionais, tornou-se adulta.

Com uma clarividência admirável, Anne conseguiu transmitir quem era e como foi a vida dos que a rodeavam. Deixou-nos um legado histórico e vívido sobre uma das épocas mais marcantes da humanidade. Numa vida destroçada pelo cenário catastrófico, ainda assim transmitia esperança no futuro e projetava os seus sonhos para lá do seu mundo. Apaixonou-se por um rapaz que residia no abrigo e viveu o seu primeiro amor, experimentando as mesmas alegrias e vicissitudes que todos nós. Numa época de trevas, soube ser feliz e teve a força e o talento para eternizar a sua vida.

 “Fortuna, fama, tudo podes perder, mas a felicidade do coração, ainda que por vezes esteja obscurecida, torna a vir enquanto viveres. Enquanto puderes erguer os olhos para o céu, sem medo, saberás que tens o coração puro, e isto significa felicidade.”

O diário de Anne Frank

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